segunda-feira, julho 20, 2009

Enclausurado

Na amargura do desespero
alerto o meu desejo
para não se entregar.

Quando o mundo gira forte
meu coração vende a sua sorte
e o lamento de te amar.

Estar longe da seguinte
é tentar romper o requinte
da tua vida iludir.

Amo do meu jeito
numa onda de segredo
para o teu corpo possuir.

sexta-feira, julho 03, 2009

Quando os animais explicam



“Diálogo” com Sigmund Freud, em homenagem à minha labradora, Pérola, fiel companheira, que morreu segunda-feira à noite, dia 22/06/2009. Os trechos de minha autoria aparecem em negrito. Os trechos de autoria do gênio da psicanálise aparecem em itálico e foram retirados de uma rara entrevista que ele concedeu ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. A entrevista completa pode ser encontrada em http://niilismo.net/forum/viewtopic.php?t=216

Sigmund Freud: Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

No meio do caminho eu tinha uma Pérola
Eu tinha uma Pérola no meio do caminho

Nunca me esquecerei daquele olhar naqueles momentos
Queria passar e lá estava ela
Agora quero ficar e ela não está lá

Deveria ter sentado mais no meio do caminho?
E acariciado mais a Pérola?

Não… Eu brinquei muito com minha Pérola!
Quantas chegadas festivas em casa!

Não há companhia como aquela…

Sigmund Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico.

Pois é, homens matam e morrem em busca de status, sem saber que caso alcançassem a estatura dos animais seriam muito mais felizes.

Sigmund Freud: O homem selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela própria impõe.

E, enquanto nós nos cobramos tanto, constantemente, de nos encaixar em um mundo totalmente desencaixado pela nossa própria ação, do que os animais se cobram a não ser da nobre tarefa de zelar por quem amam?

Sigmund Freud: As emoções do cão (acrescentou Freud pensativamente) lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis como Aquiles e Heitor.

Menorzinha da ninhada…

Teu nome é Pérola!

Fruto de superações
Lutou pra mamar

Com os irmãos fortões!

Misturada de raças…

Tu nasceu labradora
Minha Pérola!
Uma vencedora!

“Ih, ela tem o um monte de pintinhas na barriga e, caramba, o nariz é rosado!”
“Você vai mesmo querer essa?”
“Ah, sei lá, pode ser um tipo de câncer, ela pode não durar muito, hein…”
É essa, mãe!

Não era câncer
Ela me explicou o valor (e o sabor!) de rolar na lona
Viveu de forma intensa
Séria e bobona…

Seu sorriso? Uma janela…

Uma estrada que Deus me deu

Sorria com os olhos! Que grande aula era aquele olhar!

Queria conversar com o meu

Queria dizer: vai em frente, menina!

Acredito no seu potencial!

E, se ela acreditava…

Duvidar seria no mínimo desagradável.

Sigmund Freud: As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura.

O único “conflito” que ela tinha não era pra dentro, era pra fora…

Era com a cachorrada da vizinhança

Acho que ela os achava muito abusados

Só quem podia latir por ali era ela, ora!

De brava? Só o tamanho…
Ela era um ser feliz dia após dia!
Só tinha um hábito meio estranho…
Gostava de me olhar quando eu escrevia

Sigmund Freud: (sorrindo) Fico contente de que não possa ler. Certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!

Parece que os animais não sentem essa coisa chamada “trauma”, né? Pelo menos não como a gente.

28 de Junho de 2009,

Ana Helena Tavares

terça-feira, janeiro 06, 2009

Sonhos não terminam de manhã!

*Para o meu amigo Gilson Caroni Filho, capixaba com alma mineira, alma de menino... Um menino que tanto sonhou construir mudanças no mundo que hoje muda o mundo construindo sonhos.

Vou para Minas, mas cadê Minas?
Disseram que se desfez, disseram que agora é mar.
Mas, ué, lá não tem praia, lá tem boi, lá tem vaca,
lá tem o verde que dá café.
Posso sentir o cheiro. E sentir é saber.
Que algo existe, sim, existe! Sinto e...
por isso, ainda há!

De onde vem o leite que tomo de manhã?
Não me enganem!
“Ah, foi feito em laboratório...” Nada disso!
E aquela vaquinha branca que vi sestrosa pelo mato?
Minhas retinas não me iludem e se for ilusão, que mal há?
Tenho certeza, Minas ainda há!

De onde vem aquele pozinho pretinho com um cheiro irrepetível?
“Shiii, hoje em dia isso se fabrica, moça!”
Pela janela do carro observo, de um lado e de outro, cafezais em flor,
lá no meio deles, do coração de uma casinha simples pareço ouvir:
“Cheirinho de café quente, já colheu o resto?”
Por lá não passou Mr. Ford,
por lá Minas ainda há.

Vou para Minas, sei que ela está lá! Sei porque sinto.
Ando nas ruas de minha querida metrópole,
olho para uma rosa, sinto seu aroma e sei.
Tiro o calçado na minha varanda, piso numa nesga de terra e sei.
Até ao acariciar meus cachorros
olho profundamente seus olhares indecifráveis
e entendo que Minas sempre haverá.
Basta se querer que ela exista.

Queijo com goiabada,
cheiro de terra molhada,
palmas na calçada: “Ô, de casa!”
Cheguei em Minas.
Uma rede, um quintal: “Ah, que bela amendoeira!”
Será dali que saem aquelas amêndoas parrudas de Natal?
Sabia que Minas ainda havia.

Como passar um Natal sem Minas?
Um Natal sem o interior,
qualquer interior.
Noel vem de uma cidade sonho?
Vem da minha Minas.
Todo real foi sonho antes.

Carrinho de rolimã desce,
sobe ladeira.
Era o brinquedo preferido do menino magrinho,
irmão de mais dezesseis,
na sua longínqua Minas.
Hoje, bem-sucedido empresário,
no Rio de Janeiro que adotou, ele garante:
“Minas não sai de lá.”

É por isso que eu vou para lá.
Na minha viagem, talvez não ouça nenhum “uai”.
Quem sabe não encontro algum capixaba, ou paulista talvez...
Que interior rico tem São Paulo, que interior rico tem o Brasil.
E pelo mundo afora já imaginaram quantos recantos não são, por assim dizer, mineiros?
“Para que pressa, meu senhor, a gente já chega, é logo ali...”

E o senhorzinho, então,
vai indo,
vai indo,
até que avista Minas.
Ela estava
dentro dele.

Porque dentro dele
canta um galo.
Acordou junto
à primeira fornada.
Um pão quentinho
e Minas cabia naquele cantinho.

Lá fora, as folhas choram
o orvalho da noite que ninou as ladeiras.
Telhas com lodo acusam:
por ali passou água,
por ali passou vida;
Minas passou por ali.

E para onde foi Minas?
Terá ido para o bater de asas do beija-flor
ou para o deslizar da gaivota?
Não importa. Minas paira.
É o que os galos anunciam
todas as manhãs.

Você não os ouve de seu arranha-céu?
Experimente passar um dia arranhando
a terra...
Fazendo desenhos nela, casinhas de barro...
Ah! Como fiz casinhas de barro!
Sim, Minas mora nelas.


E pode morar também na sua,
basta ouvir o cantar do galo.
De repente, no ouvido um estalo.
É estalinho, é São João.
A brasa da fogueira escreve no vento:
“É Minas! É trem ‘bão’!”

Olha o trem...
ziguezagueando as montanhas,
parece brincar
com os cafezais.
Café com galo cantando?
É gosto de quero mais.

“Toma os trocados
pro seu doce,
vai lá na barraca,
meu filho,
deixa eu fazer o bolo de milho.”
Ah! Quero mais...

Minas deixa esse gosto nos lábios dos que já a beijaram.
E sinto... E há.
Como quando um domingo à tarde me faz sentir passar a banda...
Ela não passou? Mas senti.
Como quando um pingo de arte me faz sentir rodar em ciranda...
Não rodei? Mas senti.

Minas é sensação.
Como amar sem sentir?
E que gosto tem o real
sem o amor
que se confunde
com aquele chamego de interior?

Que gosto tem a fruta comida do pé?
Tem gosto de Minas!
Para que lavá-la e tirar seu pólen?
Minas é aquela pétala que compõe a flor,
porque secá-la é lhe negar sabor.
Sim, mangas têm pólen, margaridas têm sabor.

Como um grão de areia
que na nossa mão é maior que o mar,
Minas transforma,
se transforma,
nos transforma.
Por isso vive.

Vive na folha que cai da árvore
e voa que voa.
Sabe-se lá onde vai parar.
Vive na formiguinha que sobe a parede
à toa, à toa...
Que nada, está a trabalhar.

Está presente nas abelhas que dão mel
e nas ovelhas que dão lã.
De onde vem isso tudo, meu Deus?!
Para compor uma mesa de ceia, risadas harmônicas
e tortas rodeadas de saladas de frutas.
Quantas Minas, quanto campo, quantas lutas!

A pedra que dava ouro hoje dá louro
a quem nela crê.
Em Minas, tem dessas pedras que rolam na grama,
se sujam de lama,
sem se importar com quem vê.
Nem com quem ouve...

Mas o galo quer platéia... E a platéia precisa dele.
Ouça você com mais cuidado.
Sim, ele canta em sua metrópole.
Até na Avenida Central ele canta.
Verdadeiro mestre em disfarces,
sabe de inglês a javanês.

“Um dia traduzi num exame escrito:
‘Liberta que serás também’.
E repito”
Foi assim que Vinícius de Moraes confessou ter um dia
errado a tradução do lema da bandeira mineira.
Repito com ele!

Como saber se Minas há
se você nunca buscar libertar-se para que ela liberte-o?
Não tem tempo?
Ah, foi bom lembrar...
Cocoricó!!!!!
Para ser livre, Minas gosta de libertar os relógios.

E o que Minas
mais gosta mesmo
é de ser Minas.
Uma autenticidade
que nunca ninguém
vai lhe tirar.

Seja você
mineiro ou capixaba,
brasileiro ou estrangeiro,
é fácil entender.
Minas é sinônimo
de sonhar.

Já foi num campinho daqueles de várzea
e observou alguns pés descalços
atrás de um sonho?
Já interpretou o rosto de quem ganhou sua primeira pipa
e foi pro alto de uma ladeira para soltá-la
sonhando alcançar as nuvens?

A Minas
de que falo
é tudo isso.
Todos os sonhos
que enquanto houver
o pulsar de corações
não morrerão.

Ela está nos hábitos mais gostosos
que a humanidade já produziu.
Desde o sonho
de abraçar o mundo
ao desejo
de abraçar e beijar aquele menino/menina
com quem tanto se sonha.

Sim, Minas está também nos namoros
e nos choros
que eles produzem...
Já se banhou num lago em dia de chuva fina e chorou de amor na cabeceira de um rio?
Ou quem sabe...
Já correu no temporal e chorou de amor à beira mar?
Suas lágrimas foram para Minas.

Chove e, em cada gota,
Minas é mais Minas.
Da janela se vê folhas escorrerem sua alegria.
Oh! Que lindo girassol no florista
de minha metrópole ensolarada...
Foi regado com amor.

Minas está no sol e na chuva, no sol e na lua –
está no encontro dos dois.
Está em tudo que é vida e vida
– para quem a vive intensamente –
cheira a sonho, como o pão de queijo quentinho da vovó,
como almofadas macias que embalam meu sono.

Sonhei que uma borboleta piscava para mim de noite.
Estou certa de ter visto uma beliscar os primeiros raios de sol.
Borboleta, borboleta... Borboleta que vai e volta...
Será a mesma? Eu sabia!
Minas está nela
e sonhos não terminam de manhã.

(escrito entre 08 e 15 de Dezembro de 2008)
Ana Helena Ribeiro Tavares

quarta-feira, outubro 03, 2007

Atenção

Caros leitores, gostaria de lhes informar que partes de alguns contos e poemas expostos neste blog estão sendo utilizados indevidamente por outras pessoas em fóruns de discussão e em grupos de poesia na internet. Todos os contos e poemas aqui postados são de autoria de Ígor Lopes ou de quem os tenha assinado.
Obrigado pela vossa atenção.

quinta-feira, maio 03, 2007

Mar de saudade

Batem as ondas...
Num bater de acalento do Douro
Rio de vida, de descobrimentos.
Caminho de muitos sofrimentos e desejos,
Anseios perdidos, conquistados, consagrados,
Hoje esquecidos.
Mas também de coração partido, de águas que não falam
De choro preso e lágrimas marcadas pelo fim do dia.
Dos socalcos memoráveis sobrou a coragem, o talento, a humildade de uns.
No coração têm segredos, mistérios…
Batem as ondas que benzem este mundo esquecido.
Agora crescido, imaturo, civilizado como sabe ser.
De uma margem a outra é só mundo
Que a água e a história souberam manchar as suas tradições
Criar nódoas, desamparar.
Espíritos acolhedores de insultos e devaneios contemporâneos.
Nasce o sol e com ele um novo amanhecer.
De Leste a Oeste, a frescura “libertina” dos últimos dias...
Um ruído na paisagem e chegou a hora de partir...
Batem as ondas...

Solidão, um mal perturbador

O que dizer da solidão?
Um misto de vazio e compaixão.
Um não sem perdão,
Uma ausência sem carinho.
Um olhar na escuridão
E a perda da benevolência.
Monotonia do pensamento,
Inactividade da razão.
Deixar de ser, para apenas querer.
Ser o sim dos obstáculos
E a inércia da tentação.
Um abrigo vaidoso das lágrimas,
Um choro preso no coração.
Um grito de silêncio
E uma tempestade de angustia.
Solidão é pavor,
É a morte do pretexto.
É o desvio do pensamento,
O socorro da paixão.
Solidão é o fim da vaidade
É a roupa dos desnudos
E a pele dos mal-tratados
Isolamento, depressão, piedade.
O fim da saudade
E o início do isolamento.
Por isso, é melhor deixá-la do lado de fora.
Sem as chaves para entrar
E sem memória.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Amor Maior

Na busca diária e infinita

Pelo amor maior

Muitos se perdem pelos descaminhos

Prendendo-se a desejos passageiros

E desencontrados com os próprios sonhos de cada um


O amor maior, o amor eterno

O amor que se procura eternamente

Encontra-se nos olhos certos finalmente localizados

Ou no gestual do objecto amado

Ou, ainda, na fragrância do tempo.



André Freire, in "Pontexistencial. Do Rio de Janeiro para o rio Douro".

domingo, maio 14, 2006

Apuros de um torcedor

Luiz Antonio era fanático por futebol e isso não se limitava apenas aos exageros que cometia regularmente durante os jogos do seu time do coração, o Flamengo, comprando fogos de artifício para comemorar possíveis vitórias, mas se estendia pelo amor à arte, assistindo a partidas de outros times, inclusive do campeonato europeu, no fascínio de presenciar e aplaudir jogadas que considerasse espetaculares.

Desde que ficara decidido que a Copa do Mundo de 2006 seria na Alemanha, todo seu interesse futuro se convertera ao planejamento de uma viagem ao Velho Mundo, para acompanhar de perto a Seleção Brasileira em busca do hexacampeonato. Com olho no evento, juntou dinheiro, preparou passaporte, cuidou do guarda-roupa que levaria, tudo em um procedimento metódico e constante, para que nenhum obstáculo surgisse à última hora.

Para melhorar sua perspectiva de uma boa estadia na Alemanha, ainda tinha uma tia casada, há pouco mais de cinco anos, com um industrial alemão, que residia em Leipzig, uma das cidades programada para sede do evento. Esse fato lhe garantia o alojamento grátis, a apenas uma hora e meia de Berlim de carro ou trem, lugar onde, por certo, o Brasil haveria de jogar a final do campeonato. Se Deus quisesse...

Quando faltava uma semana para o início dos jogos, Luiz Antônio embarcou. Precisava chegar com alguma antecedência, para se ambientar, dizia ele.

Sua partida foi festiva, com a presença de muitos amigos, com uma certa ponta de inveja por não terem tido a perseverança que Luiz Antônio havia demonstrado, para concretizar seus sonhos. E o desembarque em Leipzig mais alegre ainda, com a tia cinqüentona eufórica, carente de poder se comunicar em seu próprio idioma e, ainda mais, com um sobrinho tão querido que vinha para lhe fazer companhia nos angustiantes momentos de fervorosa torcida que se aproximavam.

Almoçou com os tios, mas não quis privá-los de suas atividades rotineiras e enquanto eles saíam para o trabalho, quis dar uma volta de reconhecimento pelo centro. Não aceitou o carro que lhe foi oferecido pois preferia caminhar, num contato mais direto com a cidade. E, seguindo as indicações da tia, foi caminhando pelo centro histórico, apreciando obras renascentistas e barrocas, ao lado de construções recém terminadas para abrigar os esperados turistas.

Terminou chegando em uma praça onde havia uma estátua de Goethe quando jovem, num marco eterno de que, em sua universidade, uma das mais antigas da Europa, o célebre autor recebeu as bases do seu conhecimento.

Sua tia lhe contara que, em frente à estátua, havia uma passagem cheia de lojas, cafés e restaurantes que levava ao bar Mephisto, ao lado do qual ele encontraria uma escultura de bronze representando Fausto, o homem que vendeu sua alma, segundo o romance de Goethe. Os supersticiosos desenvolveram o hábito de passar a mão pelo pé esquerdo da simbólica figura, em busca de sorte. E, diante do brilho do tal sapato de bronze, em total contraste com todo o resto obscurecido da imagem, podia se concluir que são muitos os que crêem na existência de estranhos mistérios permeando a rotineira realidade.

Como todo bom torcedor brasileiro, cheio de mumunha, Luiz Antônio, nem bem tomou conhecimento da lenda, passou a agir em função de um único objetivo: um colóquio com a estátua de Fausto. Tinha certeza de que o escrete brasileiro era o melhor do mundo. Não tinha qualquer dúvida a respeito disso. Mas sabia também que nunca seria demais uma ajudazinha do além... Assim, atravessou à praça em direção ao café Mephisto e, quase compungido, esfregou o pé esquerdo da figura de Fausto, pedindo o hexacampeonato para o Brasil.

Depois disso, bem mais sossegado, já que o desfecho da Copa estava entregue a estâncias superiores, continuou andando, parando aqui e ali, até se sentir bastante cansado. Realmente abusara um pouco. Havia os fusos horários que já minavam demais as resistências e ele ainda desafiara as suas forças.

Resolveu voltar de ônibus. Felizmente, tudo estava muito bem sinalizado, em alemão, inglês e espanhol, coisas mesmo de Primeiro Mundo, o que lhe permitia locomover-se com a mais absoluta segurança.

Sentou em uma das poltronas e, só então foi vendo o quanto andara. Na ânsia de atingir o bar Mephisto, havia exagerando na exploração de sua resistência...

Ao chegar em casa, já estava anoitecendo, mas os tios ainda não tinham chegado, felizmente a tia previdente havia lhe dado uma chave, e ele pode entrar sem maiores problemas.

Maiores problemas é maneira de dizer pois, no centro da sala estava um homem magro, de terno preto e fisionomia circunspecta que o olhou fixamente.

Desconhecendo os hábitos do lugar, achou que fosse algum parente do Helmut que também estava alojado na residência dos tios e cumprimentou, solícito.

- Boa tarde! Não sei se o senhor fala português, mas eu sou Luiz Antônio, o sobrinho da Zuleika que chegou hoje do Brasil, para ver a Copa do Mundo. – Disse o rapaz, a título de explicar a sua presença meio invasora no local.

- Eu sei muito bem quem você é! – Falou o homem em português fluente. – Estou aqui para firmar as condições do pacto.

- Pacto?... Que pacto?...

- Sua alma por um desejo.

- Que tolice é essa?... Quem é o senhor?...

- Não se faça de inocente! Eu sou Mephisto, a quem você foi, ainda há pouco, pedir empenho para a realização do seu desejo. Não quer que eu patrocine a vitória do Brasil na Copa?... Patrocino. Mas é bom que saiba que isso tem um preço, meu amigo, e você terá que pagar! Ou você pensou que eu fosse trabalhar de graça?...

Luiz Antônio tremeu. Ali, diante dele, o próprio diabo ao vivo e sem cores... Em preto e branco mesmo... Um suor frio correu pelo seu corpo. Seus pés ficaram como que grudados no chão. Quis falar alguma coisa, mas a voz embolou na garganta como se fosse uma rolha, sufocando-o.

Foi quando, miraculosamente, um som, bem próximo ao seu ouvido tirou-o do torpor.

- Herr! Akkord! Wir sind im letzten punkt dês busses.

Abriu os olhos, espantado.

Ao seu lado, um jovem com uniforme de cobrador da empresa de ônibus, percebendo sua expressão de total atordoamento diante da informação, repetiu em espanhol:

- ¡Señor! ¡Despierta! Estamos en el punto final del autobús.


Yedda Pereira dos Santos

segunda-feira, março 20, 2006

Estrada para o Sucesso

A estrada para o sucesso não é reta. Há uma curva chamada fracasso, um trevo chamado confusão, um quebra molas chamado amigos, um farol de advertência chamado família e um pneu furado chamado emprego.
Mas se você tiver um "step" chamado determinação, um motor chamado perseverança, um seguro chamado fé e um motorista chamado JESUS, você certamente chegará a um lugar chamado SUCESSO!!!

Enviado por Maria Stella Andreão

sexta-feira, novembro 25, 2005

Vida "contrária"

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás para frente.Nós deveriamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí, viver num asilo até ser chutado de lá para fora por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para aproveitar a sua aposentadoria.
Aí você curte tudo, bebe bastante, faz festa e se prepara para a faculdade.
Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebézinho de colo, volta para o útero da mãe, passa os seus últimos nove meses de vida flutuando...
E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?!

Charles Chaplin

quinta-feira, junho 02, 2005

Rasgos do tempo

Caros leitores, gostaria de lhes informar que parte deste conto, bem como de outros expostos neste blog, estão sendo utilizados indevidamente por outras pessoas em fóruns de discussão e em grupos de poesia na internet. Todos os contos e poemas aqui postados são de autoria de Ígor Lopes ou de quem os tenha assinado.
Obrigado pela vossa atenção.
- Conto: Amanhecera o dia havia algumas horas. Na janela à esquerda da cama o sol insistia em entrar rasgando a cortina. O primeiro toque caloroso do astro foi na pele, no rosto, a beijar-lhe os lábios. Molhava-lhe de prazer, antes mesmo de acordar. Mais um dia chegava, e mais uma noite terminava. Noites de sonho, de amor solitário, de perdão.
O dia começou. A primeira actividade do dia era a de acalmar a alma manchada de amor, que os anos fazem esforço para cobrir a ferida. Não mais vale a pena lembrar-lhes. O fim de tudo está para começar.
Acabado de chegar, há pouco dizia bom dia a toda a gente. Há minutos sentia o aroma do campo e ele só. Campo esse que hoje é-lhe invisível, já que nele falta uma flor. Nem papel, nem caneta, hoje tudo é dor. Completo de paixão, por mais estranha que possa parecer, o dia ainda insiste em raiar, e o sol não mais encontra barreiras para os seus lábios beijar.
Chegou o dia, em que se trocou terra por mar. Trocou-se passado por futuro. Mas sem saber se seria melhor que o de outrora. As nuvens não se arriscaram a aparecer. Abriu-se o destino. Não só o sol lhe beijara. Não só a mente o traíra. Junto à grama, tapete verde de mosaicos azuis, castanho o céu que coloriu de branco a paz do amor. Beijos em destaque numa cena sem atores. Só a mente é capaz de traí-los. Mais vale um céu a chorar que a lua a gritar e as calmas ondas do mar a gemerem de desejo.
Orvalho natural, rio de prazeres, cabelos que crescem e que ainda muito têm que crescer antes de fincarem na raiz da vida a vontade de perceber o real, de viver um pedaço de sim. O prazer do tempero da carne da boca que ainda maliciosa tende em contar com Deus para dormir. Adeus ao céu, fechem-se as cortinas, os anos estão vivos. Desde os cinco, hoje, doze, e a voz não se cala. Calada fica quando não mais espaço tem para usar o ar que resta nas entraves desta paixão. Beijou-me o céu, tocou-me o coração.
Agora desiste, começa a enfraquecer. Nem mesmo o sol, de pirraça talvez, consegue entrar e tocá-la. A mente enfraquece, esquece-se tudo. Uma vez mais, conspira o destino, que o trai. Dá-lhe prazer, depois o abandona. “Não és mais ninguém”, diz-lhe a voz que o ama. Faz-lhe sofrer, e agora termina por mostrar-lhe o que ainda vem pela frente. Viva esperança, pois és a única que tens tempo e disposição para viver. Deixe de fora aqueles com quem brincas, não os faça temer a verdade. Ajudai-os a nascer de novo para a vida. Floresta nossa. Vida minha. Mágoa vossa.
Falar aos cometas, o que antes era segredo meu, pedir-te, ao ir, para voltares, uma próxima vez, e se por esses caminhos fores, leva recordação do sim ou não, caso queiras voltar. Ergue-te ao tempo. Arrasta esta luz contigo. Caminho teu, destino meu. Só não esqueças que quando um homem sonha, embora acordado, o mundo corre e avança, por que um dia foi criança e hoje, ainda, vale o sonho.
Solidão, dá a mão ao vento, corre sem destino, vai ao cais de onde não mais posso sair.
Ilusão, já fui dono deste mar, por onde teimas não mais passar.
Montes e vales maiores que a alegria de ver-te. Explorar teu corpo, deixar-me sofrer.
O meu barco, pequenino, é à vela, o qual o vento o desfaz, facilmente.
Não há cordas nem correntes que o prendam ao teu cais. Teu amor é tempestade que o leva e não o traz.
Engano meu, a água do rio virou mar. Mudou-se a estação. Pede-se ao rio para levar o que era amor e virou paixão. Nem mais o fado espanta esta tristeza. Sou nele o refrão de uma alma presa.
Deixo mil tempos, abandono o caminho e entrego a bandeira ao inimigo. Declaro derrota. Triste de quem vencer esta mesma batalha. Não há esquema, tática, nem nada. Um abraço forte, esperança acesa. Minutos cegos, horas recentes, entrego-me ao nada. Sempre que escolho um caminho, por onde vou, não estás. Para que sentir-te, se nem mesmo os anjos te conseguem tocar. Faço papel de bola de cristal, onde alguém te pinta lá nua. Temo a vontade. Temo seu jardim proibido. Nem tudo que eu te dou, tu me dás a mim, mas mostra ter orgulho de ter em outro o espelho dos teus sentimentos. Não vale ser assim um teto, uma árvore, mais vale esconder-me de ti, fascinar o luar, amar o ciúme e retornar ao passado. Não para vivê-lo novamente, mas sim, para esquecer este futuro, que por hoje, passou, virou presente, verdade, disse adeus e deixou saudade.

Ígor Lopes

Povoado da Paixão

Bom é ter alguém para amar e confiar
Mas essa pessoa é difícil de encontrar
Encoste no meu peito
Sinta meu coração
Me dê a sua mão
Vamos juntos nos amar
Fronteiras da paixão
Por onde não posso mais passar
Coração tão bem armado
Onde é impossível de passar
Ter você a vista
É uma terra encontrar
Terra de prazer
E a você quero explorar
Vem me dar um beijo
Povoar meu coração
Vamos juntos dar adeus a essa solidão
Você sabe que preciso do teu amor pra viver
Procurar um sonho inteiro
É perder o seu valor
É jurar amor à vida
É traí-la sem temor.
Sempre que te disse adeus
Jurava não mais voltar
Lágrimas caíram do rosto
Não as pude enxugar.
Amor, verbo difícil de se conjugar
Tem que ser no tempo certo.
No passado, errei.
No presente, te amo.
No futuro, não mais te terei.

Ígor Lopes

Partes de um tempo

Parte de um rio se perde com a correnteza
Parte da vida se perde com o sofrimento
Parte do rio se refaz com o tempo
Tempo que leva uma vida com a força da correnteza.
As águas que levaram não a deixaram descorrer.
É com sofrimento que a vida espera o tempo.
Sofrimento que destrói
Sofrimento que constrói
Vida que corroi o som do vento
Que leva ao tempo a voz do sofrimento.
As águas da praia são mais revoltas
Pois são lágrimas de um leito sofrido.
E a correnteza com força nas veias
Faz a vida alcançar, com sorte ou com dor,
O dom navegante do tempo esperar.
Força que da força faz nascer a força
De um orixá que veio ao mundo para do mar forças tirar.
Oh, Yemanjá, que em tua casa destes abrigo a quem o mar soube amar.
Amor derradeiro, verdadeiro, profundo,
Fruto da certeza da bela alteza coroar.
Rainha do mar, deusa das águas, fazes-te presente
Tantos nomes tens, mas somente ao mar pertences.
A quem as sete ondas se curvam, seja mar, seja rio.
Parte do rio, perdido com a correnteza,
Se acha na tristeza da força aumentar.
Parte da vida...
Com o sofrimento...perda irreparável.
Pois era vida...
Virou rio...
Que a correnteza levou.

Ígor Lopes

Não Crer

Chover estrelas, molhar o céu
Fazer no mar tempestade de areia
Calar o vento, apagar o sol
Pedir a lua a quinta fase só pra mim.

No deserto, secar-te a fonte
Escrever poemas sem caneta nem papel
Ter um pincel e pintar a tua estrada
Numa tela de aguarela e verniz.

Fechar os olhos, imaginar teu corpo
Uma escultura em prata decaída em ouro
Tirar-te o véu, despir a tua roupa
Rezar a Deus e pedir que fiques louca.

Porque...
O impossível pode acontecer
Vais ver...
O que sou capaz de fazer.

Do pianista esperar a quinta sinfonia
Rasgar as contas da saída que aconteciam
Criar momentos onde se diziam
Era tão bom estar ao teu lado
Não fosse teres me magoado.

A escuridão apaga a tua vela
Fico contente, vens tu e trazes ela
Espirito escondido no aparecer
Fingir ter uma vida para se viver.

Escondo na atitude o medo de falar
O mal do teu destino foi fazer-me te amar
Nego à esperança o último suplício
Na tua voz encontrei meu sacrifício.

Ígor Lopes

Constantemente

Você não sabe o quanto eu te amei
Não sabe o quanto eu sofri
Minhas noites viraram dias
Meu amanhecer, anoitecer
Sem o brilho dos teus olhos
Agora estou sozinho sem você
O relógio é meu maior passa-tempo
E o tempo é minha melhor amante
As horas passam
E você insiste em ficar no meu pensamento
Meu ego chama por você
Meus dedos sentem falta do toque do teu corpo
Minha pele quer ir ao encontro da tua, novamente
Pareço estar perdido neste mar de ilusões
Onde a febre do amar me deixa enfermo ao teu lado
E a cura pode estar em teus lábios
Que ao tocarem os meus com o feitiço da paixão
Trazem-me a felicidade de voltar a viver intensamente
Este momento, nem que seja um vão momento,
Passarei cada segundo, pensando em você
Pois, tua imagem se transformou no paraíso sonhado por mim para viver eternamente
Na verdade, nunca te tive
Na verdade, até mesmo, nunca vivi
Hoje sinto tua falta, mesmo sem saber
O doce sabor de tua constante presença
Se a pudesse ver, tocar e sentir mais uma vez
Começaria minha declaração dizendo: Te amo
Pois é a única sentimento que em sua presença
ainda deixo fluir do coração, constantemente.

Ígor Lopes

Amar a flor

Nunca pensei em ver-te partir daqui
Nunca esperei amar-te sem sentir
Estas noites passaram tão caladas
A lua disse, não ouvi, tava parado
Pensando em ti, nos anos que tens a partir
Da boa vida que eu tinha sem te ver
Dos copos lisos que hoje eu os guardei
Da roupa suja e da lágrima que eu sequei

Fechei os olhos, deixei de acreditar
A cada passo que eu dou chego a teu lugar
Amor tão cedo, viraste-te pra vida
Do meu desejo, beijar-te às escondidas

Nosso passado é vulgo alucinação
Passam-se os anos, não te vi, só solidão
Pra esta terra onde cheguei, conspiração
Guardava o fundo da minha vida
E tu, a chave do meu coração

Não há prazer, só amor e dedicação
Cabelos lisos, cacheados, promessa de perdão
Aos secos ou molhados, de pé ou deitado
Palavras te falei, com o olhar eu as ditei

Pequena realidade, olhos do tempo
Cortina de cristal, espelho do meu céu
Tapete de amor com sabor à realidade
Molhavam os meus lábios, tua boca que saudade

No campo, na areia, vi no rio o mar de sombras
Acordavas pra esta vida
Que acordavam pra esta vida, minha menina
Não vás, não deixe de pensar no que falei

Rotina é viver o que vivi
Saudade é pensar no que perdi
Detalhes são poemas do amor
Eu queria ser teu verso minha flor!

Ígor Lopes

Adormecer no Douro

Eram 20 horas e cinquenta minutos quando o destino começou a ganhar asas. Parecia mesmo que queria dar-me um voto de perdão ou, quem sabe, de consolação. Voaram pensamentos, dores, amarguras. Em meu leito, predominava a escuridão.
Foram vários meses de desleixo, vazio, amargura e saudades. Não sentia vontade de lutar pela minha própria vida, mas encontrava razões para deixar fluir, de dentro do peito e da mente, um pedido: O último beijo.
Abril de 2004
Encontros, desencontros, amarguras, choro, desespero, amor, felicidade, razão, solidão, beijos, luta e abraços. Vivia o mito da felicidade frente ao herói desta conspiração.
Num dia ensolarado, ouvi um último ruído. O meu coração não aguentou. Rezar já não resultava. Estava definido o meu fim. Mas eis que surge, em meio ao estribilho de sempre, a renovada esperança.
Aquela porta do quarto do hospital escondia o que lá dentro se passava. Eram instantes. De repente ouvi passos lá fora. O barulho parecia cada vez maior, até cessar. A porta abriu-se. Não consegui olhar o seu rosto. Meus olhos e a minha alma recusavam-se a viver. Esperei por um momento o bater da porta. Não mais a escutei. Aos minutos seguintes, sucedeu-se o inexplicável. O seu calor tomara conta de mim. Conseguia saber e ver ao longe o que ela fazia. Olhava o meu corpo, o meu resto de vida. Deitado e calado, eu chamava por ela. A única e talvez a última oportunidade de conquistá-la ainda restava em nós. Ouvia, mas não falava. Estava travado pela seiva da vida numa cama, a viver os últimos momentos da minha infortuna.
Passaram-se seis minutos.
Estatura média, cabelos negros, olhar castanho, noviço e delicado. Mente ainda sem pecado. Corpo aos olhos do céu construído. Semblante conhecido com ar de tortura a bater no vento a sua inspiração. Amorosa no ventre, solitária na noite, protegida pelas mãos de outrem. A porta fechou-se. Pensei ter ido embora. Mas os passos se aproximaram de mim.
- Como estás? Disse a voz que rapidamente reconheci.
Não falara há meses, mas sabia exactamente o que dizer naquele momento.
- Estou com saudades. Respondi com a alma ofegante.
- Não respondes por que não tens vontade. Sei que queres tocar o meu corpo mais uma vez e também eu desejo-te. Quero acabar com este mistério que fazes e começar tudo novamente. Esbracejava ela.
- Sabes, há muito tempo eu queria deitar ao teu lado e contar-te uma história. Naquele dia que te vi chegar ao pé de mim, meu coração dizia que querias sempre mais. Não davas um passo atrás. Chagava-te perto e teus olhos me diziam sempre o mesmo. Como querias que eu reagisse? Sabia lá eu que querias menos do muito que eu te podia dar?
Palavras e pensamentos. Eu dialogava e ela insistia em encara-me com os seus olhos de cristal. Por um instante disse ela:
- Por que não tentaste mais uma vez? Era fácil conquistar-me!
- Como ousas dizer que eu não tentei. Depois de olhar-te, fingi conhecer-te por mais tempo. Fingi ter-te amado mais vezes. Vê se recordas aquela tarde em tua casa. Fiz do mel a semente do meu desejo. Pensei meia vez antes de te querer beijar e, mesmo antes de tudo isso, vi-te em meus braços a deitar-te e a pedir-me para ficar contigo. Deitei onde querias e senti-me nos céus. Tomaste conta do vazio que sentia naquele altura. Mas ao contrário de mim, não sentias nada.
- Nada. Nunca dizes nada! Quem pensas que eu sou? Venho cá, encontro-te assim e não deixas a tua vontade de viver ressaltar sobre mim? Porque? Desististe? Reage. Agarra-me e continua o que começámos. Anda lá! Faz-te homem ou não és mais capaz de me amar?
- Como podes mais uma vez duvidar do meu sentimento. Então, não lembras? Não inventei nada. Vivemos tudo juntos. Depois do primeiro pedido e dos beijos tímidos que demos, pensei que serias outra mulher. Só me querias quando a vontade estava ao teu lado. E, consolado, esperava eu o teu prazer pedir meu nome. Isso é trair? Sempre fui homem para ti, mesmo sem te ver por longos anos. Sempre soube esperar andares pelas tuas próprias pernas. Mas bem admito que esperei até onde pude, não mais consegui segurar este sentimento. Nasceu assim e o baptizei com o teu nome.
- Não me deixes assim. Diga algo de jeito.
- É impossível viver sem te ter. Será que um dia eu vou poder te abraçar novamente. Tudo mudou. És uma ilusão? Sabes aquelas vezes que andávamos juntos pelas margens do teu rio Douro e nos perdíamos num lugar pequeno, onde a água dava cor aos nossos sonhos e desejos? Então, tu também sonhaste e não foi pouco. Teu sonho passou à realidade e eu, de pé em Deus, passei do sonho ao que hoje é real. Muitas vezes deste-me a alegria de beijar-te. E quando decidiste encostar os teus lábios nos meus? E quando disseste: Gosto de ti? Tens a certeza de que aquilo não valeu nada?
- Pára! Volta para mim. Não faças isso. Por que ages desta maneira?
- Bem, acho difícil esquecer o que passámos. Infeliz de mim que dei valor e prendi-me a este sentimento. Depois daquela volta, das folhas da primavera que vi, por que pegas-te a mão de outro? Não te lembras? Tudo fazíamos escondidos, mas aos olhos dos outros. Se alguém viu, não reparou. Da última vez tentaste-me quando estávamos embriagados de vontade. Deitas-te na cama. Peguei as tuas mãos. Alisei o teu corpo. Beijei os teus lábios. Demos lugar a paixão. Levantaste-te e foste embora. Por lá fiquei. Ainda em pé, pedi-te o final. E agora?
- Desisto eu. Mexe-te. Deixa-me te amar novamente.
- Não peças o impossível. Quantas vezes chorei a pensar no teu abraço? Quantas lágrimas mancharam o teu verso escrito por mim? Por quanto tempo fiquei deitado na cama a lembrar e a imaginar o teu rosto, confundindo lágrimas com saudades? Quero beijar-te novamente.
- Já chega! Passo-me com isto. Sabes bem que foi muito difícil deixar o nada para que pudesse cá vir. Pensei muito e, em pouco tempo, estava cá. Agora não falas. Sei que podes. Há seis minutos que não abres a boca. Tenta, lindo. Levanta. Dê-nos outra chance. Passou-se o tempo. Pensava eu que ela estivesse louca, mas tinha novamente a razão. Doze tempos andantes são suficientes para amar o Verão e deixar o Outono dar cabo das folhas que viram, em bom tempo, o nascer desta paixão.
Por um longo período falei-lhe de boca fechada. Dormia involuntariamente e sonhava despertá-la em meu sonho.
Eram 20 horas e cinquenta e seis minutos quando o destino começou a ganhar asas. Parecia mesmo que queria dar-me um voto de perdão ou, quem sabe, de consolação. Voaram pensamentos, dores, amarguras. Em meu leito, predominava a escuridão. Foram vários meses de desleixo, vazio, amargura e saudades. Não sentia vontade de lutar pela minha própria vida, mas encontrava razões para deixar fluir, de dentro do peito e da mente, um pedido: O último beijo.
- Não aguento mais. Vou fazer o que tenho e o que quero fazer. Perdão. Beijo-te e deixo-te. Mas levo comigo esta tua lembrança, com a moldura do nosso passado, decidiu ela.
A distância entre nós diminuiu. Seus cabelos tocaram o meu peito. Seus lábios, os meus. Até se decidirem tocar por inteiro. Boca a Boca. Ela curvou-se e beijou-me. Por um momento pude responder… Passou-se o tempo… Que beijo de súplica! Línguas em guerra. Mentes em transfusão. Beijava-a com força e vitalidade. Não há sinais que resistam… Por lá fiquei… Gélido. Mirei o seu rosto e ela olhava-me. Olhei para o lado, lá estava ela. Chorava intensamente. O quarto não mais estava vazio connosco. Mentes e gentes olhavam e choravam.
Olhei mais ao lado, para onde todos prendiam a atenção e vi o meu corpo, ainda em sobressalto, a lutar pela vida. Cobriram-me com o seu pano branco.
Foi o fim. Seus lábios largaram os meus. Boca a Boca, somente um lado o poderia sentir. O tecto azul lembrava o céu de uma terra que um dia ostentou um sol a brilhar sobre nós. Lembrei-me muito rápido de vários momentos da minha vida. Do começo, dos tempos de amor, da miserável e inesperada partida e também do fim. Lembrei da minha terra quente que dá voz ao passado, hoje, menos presente. Até que um túnel me chamou. Voei. Cheguei onde estou.
Dunas, montes, socalcos, correntes de história, recordações... Não mais voltarei. Ela decidiu amar-me no momento da despedida. Não tive tempo de viver mais um conto.
Aproveitei o que de melhor os segundos me puderam dar e deixei levar-me pelas minhas últimas forças, até que a minha mão não mais a pudesse sentir e parasse no sereno toque dos lençóis de outrora. Sua pele tocou os meus cabelos, nada pude fazer, a não ser agarrar-me a sorte, que traiu-me depois da morte.
Entregámo-nos a um desejo que só eu soube valorizar. À contrapartida, as lágrimas me acompanharam, um dia paradas, outro dia, a rolar em meu rosto. Pensava eu que iria fazer diferença amá-la.
Um rio deu início a tudo que chamo lembrança. Um pedido. Uma negação. E uma entrega, que poderia ter sido eterna. Talvez os santos não estivessem de acordo com o papel dos nossos corações. Quem sabe nem mesmo sentia o que penso ter vivido. Sentia triste as minhas pernas por não me poderem levantar. O meu vizinho de emoções me acompanhava. A cada passo que eu dava, era seguido e olhado.
À primeira vista pareceu-me ilusão. Mas aconteceu. Deitados, de forma modesta, beijámo-nos. Olhos e olhos. A cada mirada um beijo. Uma entrega em um só coração. Recordação, só da água a tocar as pedras. Saudades, só dos seus lábios a tocarem os meus. Os seus lábios sabiam a novos, mas ao que sei, são restaurados. Muito me disseram que da vida nada levamos, somente a saudade. Por mais que eu tente apagar as lembranças, não será possível esquecer o seu abraço, o seu cheiro, as curvas do seu corpo e, principalmente, o seu beijo. Do que vale acreditar em sonhos se somos obrigados a acordar em cada vão momento? Minhas lágrimas já não secam, já não caem. Sei, e dessa certeza vou viver, que cada momento, cada inspiração tem um preço. No meu caso, foi a vida. Agora, de onde estou, vejo-a todos os dias. Fico na penumbra dos meus sentimentos e escondo-me cada vez que alguém dela se aproxima. Aquele sorriso é difícil de esquecer. Tenho a certeza de que ainda pensa em mim. Beija-me Cinderela duriense, dá luz ao nosso conto de fadas e deixa-me sorrir ao teu lado, pois sem ti não há paraíso feliz, não há perdão sem consolo, nem mesmo há amor em meu peito. Neste Património onde pisei, bebi do seu “veneno” e experimentei da sua vocação: Fazer sofrer a quem lhe amou.
Ígor Lopes

A batalha do amor

Rio de janeiro, algum dia do mês de junho do fatídico ano de 1999.

“... um sentimento de amargura tomava todo o meu ser, tomava minha mente, tomava o pouco de vontade de viver que eu sentia, me fazia implorar para que me dissessem por que de tal coisa acontecer comigo, me fazendo calcular as vantagens de viver o amanhã...”
Foi como muito gosto que conheci alguém por quem dois sentimentos que pareciam tão juntos foram se distanciando um do outro e distanciavam também meu sonho de uní-los num futuro tão próximo, mas que, na verdade, estava tão longe quanto a vontade de conquistar apenas um desses sentimentos. Só havia um problema: Qual deles era o mais importante? O amor ou a Amizade?
Escolhi o que mais me agarrava a esse alguém. A amizade. Que com o tempo viraria amor. E foi o que aconteceu. Eu esperava mil coisas acontecerem ao mesmo tempo, e assim se fez, um amor cresceu como uma chama acesa que contra o vento e se espalhava por territórios cada vez mais distantes da mais importante fronteira. O amor. Esqueci por vezes que tudo que eu sonhava era apenas sonho ou sonho. Mas o final do ano se aproximava, e o fim desse amor não correspondido e mal interpretado, também.
Problemas surgiam, dificuldades cada vez mais difíceis também, dificuldades como uma recuperação amorosa e escolar. Minha sorte foi ter bases bem fortes que me sustavam e não me deixavam cair com o tombo que a vida me fazia sofrer, essas bases eram meus amigos. Recuperado de um certo amor, tentei me recuperar na escola, recuperei minhas forças, minha vontade de viver e o meu antigo jeito de ser. Comecei a estudar e quando menos esperava, um vilão dentro de mim dava sinais de uma segunda batalha, e eu por minha vez, já farto de derrotas, levantei logo a bandeira branca, para pedir paz e evitar um novo conflito, o qual temia ser novamente a vítima. Só que a bandeira branca levantada por mim, foi mais uma vez mal interpretada pelo meu coração, serviu para eu limpar algumas lágrimas, por ser um sentimento tão novo eu ainda não tinha me encorajado a acreditar no que podia acontecer.
Numa tarde na escola, eu avistei algo mais do que lindo, algo mais do que encantador, algo que me fazia agradecer por estar ali. No início não foi o suficiente para me tirar do sério, mas com o seu jeitinho foi tomando parte do meu coração e de minha vida. Mas as férias chegaram. Eu e meus amigos passamos de ano, e esse sentimento foi se apagando.
Até que o ano novamente começou e ai não deu pra resistir. Foi só uma olhada para pintar amor e um sentimento muito forte, o qual melhor adjetivo não poderia ser tão em escolhido, foi paixão, me apaixonei. Sentia uma vontade louca de poder dizer-lhe um simples: te amo. Porém, um grande avanço para mim, vários planos eu fiz. Na religiosidade busquei forças para ganhar essa batalha. Comecei então a bombardeá-la com poemas, versos e cartas que diziam ao mesmo tempo muito e pouco do que sentia por ela.
Com palavras educadas, porém ardentes eu tentava me declarar, mas sentia falta de um contato mais objetivo. Assim conseguimos marcar um encontro meio tumultuado mas cheio de esperança e amor, tentei aproveitar ao máximo aquele momento, mas ao deparar-me com de frente com ela, deparei-me também com o nervosismo e a alegria de ter aquela oportunidade. Naquele momento meu coração e meus sonhos e esperanças falaram por mim, como se fossem porta-voz de um sentimento tão grande e mais que especial que eu sentia por ela. Depois disso, tudo parecia resolvido, mas foi ai que eu notei que o pior estava por vir. Nunca havia ficado tão perto dela e por tanto tempo, assim foi que eu descobri que necessitava disso por mais vezes, se possível pra sempre.
Os sonhos com ela começaram a ficar cada vez mais intensos e reais, foi ai que um simples cartão me deu a alegria de ver meu nome sendo pronunciado por entre seus lábios e, em forma de agradecimento, meu coração disparou de forma a deixar-me inquieto pelo resto do fim de semana, o qual passei sonhando com ela e pensando nela em todos os minutos possíveis, pois tenho tudo nesta vida e sou bastante feliz, mas minha felicidade só será completa quando eu a tiver ao meu lado e, se um dia for necessário dizer-lhe te amo pela última vez, eu o farei, se não for com palavras, será com um simples olhar, com o coração ou com a alma. Neste novo caso que estou vivendo, escolhi ao contrário do primeiro, o caminho do amor, esperando talvez alcançar uma grande amizade também.
E nesses dias, um sentimento de amargura tomava todo o meu ser, tomava minha mente, tomava o pouco de vontade de viver que eu sentia, me fazia implorar para que me dissessem o por que de tal coisa acontecer comigo, me fazendo calcular as vantagens de viver o amanhã. Amanhã, uma palavra tão distante, a qual não serei merecedor de vive-lo se a pequena porcelana não tiver a meu lado. Será um gosto a mais da vida nos fazer sofrer por amor? Será que passamos por um aprova de fé ao tentar conquistar a quem queremos ao nosso lado pelo resto de nossas vidas? Não sei a resposta, porém se acheguei até aqui, daqui não voltarei, pois farei o possível e o impossível para conquista-la e esperarei o tempo que for preciso, por que eu te amo!
Agradeço a todos que colaboraram para tudo o que aconteceu até aqui.

Ígor Lopes

sábado, maio 28, 2005

ipl

ipl-imagem

Opção Coletiva

É muito fácil pensar
É muito fácil gerar
É muito fácil amar
É muito fácil odiar

Difícil é perdoar
Difícil é aceitarDifícil é encontrar
Difícil é acreditar
Mundo Cão, Mundo Vil.
Onde todos andam.
Mas ninguém viu
Que quase tudo já se destruiu

Perdemos a Fé nas pessoas
Perdemos a Fé na Humanidade
Perdemos a Fé em nós
Perdemos a Fé bondade

Procuramos em todos o amor
A paz, a esperança e a flor
Mas todos estão desiludidos
E sentindo-se totalmente perdidos
É o cáus urbano

O desemprego desumano
A fome se alastrando
A piedade se acabando
Mas nem com tudo isso, devemos desistir
Devemos lutar com amor pra sobreviver
E, como a esperança é a ultima que vai morrer
Tenhamos Fé em que a humanidade das cinzas irá surgir

Me sinto só quase todo tempo
Só sinto em meu rosto o sopro do vento
Mas meu coração ainda palpita
Minha alma no íntimo acredita

Vamos nos unir
Vamos dar as mãos
Que sinto ainda que está por vir
A salvação para todos os irmãos
Assim sonhou e acreditou nosso Salvador
Que por nós suportou tanta dor
E nos mostrou uma grande lição
Só iremos sobreviver com muito amor no coração

Ana Lopes (17/5/2005)

Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas!

Charlie Chaplin

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.