quinta-feira, junho 02, 2005

Rasgos do tempo

Caros leitores, gostaria de lhes informar que parte deste conto, bem como de outros expostos neste blog, estão sendo utilizados indevidamente por outras pessoas em fóruns de discussão e em grupos de poesia na internet. Todos os contos e poemas aqui postados são de autoria de Ígor Lopes ou de quem os tenha assinado.
Obrigado pela vossa atenção.
- Conto: Amanhecera o dia havia algumas horas. Na janela à esquerda da cama o sol insistia em entrar rasgando a cortina. O primeiro toque caloroso do astro foi na pele, no rosto, a beijar-lhe os lábios. Molhava-lhe de prazer, antes mesmo de acordar. Mais um dia chegava, e mais uma noite terminava. Noites de sonho, de amor solitário, de perdão.
O dia começou. A primeira actividade do dia era a de acalmar a alma manchada de amor, que os anos fazem esforço para cobrir a ferida. Não mais vale a pena lembrar-lhes. O fim de tudo está para começar.
Acabado de chegar, há pouco dizia bom dia a toda a gente. Há minutos sentia o aroma do campo e ele só. Campo esse que hoje é-lhe invisível, já que nele falta uma flor. Nem papel, nem caneta, hoje tudo é dor. Completo de paixão, por mais estranha que possa parecer, o dia ainda insiste em raiar, e o sol não mais encontra barreiras para os seus lábios beijar.
Chegou o dia, em que se trocou terra por mar. Trocou-se passado por futuro. Mas sem saber se seria melhor que o de outrora. As nuvens não se arriscaram a aparecer. Abriu-se o destino. Não só o sol lhe beijara. Não só a mente o traíra. Junto à grama, tapete verde de mosaicos azuis, castanho o céu que coloriu de branco a paz do amor. Beijos em destaque numa cena sem atores. Só a mente é capaz de traí-los. Mais vale um céu a chorar que a lua a gritar e as calmas ondas do mar a gemerem de desejo.
Orvalho natural, rio de prazeres, cabelos que crescem e que ainda muito têm que crescer antes de fincarem na raiz da vida a vontade de perceber o real, de viver um pedaço de sim. O prazer do tempero da carne da boca que ainda maliciosa tende em contar com Deus para dormir. Adeus ao céu, fechem-se as cortinas, os anos estão vivos. Desde os cinco, hoje, doze, e a voz não se cala. Calada fica quando não mais espaço tem para usar o ar que resta nas entraves desta paixão. Beijou-me o céu, tocou-me o coração.
Agora desiste, começa a enfraquecer. Nem mesmo o sol, de pirraça talvez, consegue entrar e tocá-la. A mente enfraquece, esquece-se tudo. Uma vez mais, conspira o destino, que o trai. Dá-lhe prazer, depois o abandona. “Não és mais ninguém”, diz-lhe a voz que o ama. Faz-lhe sofrer, e agora termina por mostrar-lhe o que ainda vem pela frente. Viva esperança, pois és a única que tens tempo e disposição para viver. Deixe de fora aqueles com quem brincas, não os faça temer a verdade. Ajudai-os a nascer de novo para a vida. Floresta nossa. Vida minha. Mágoa vossa.
Falar aos cometas, o que antes era segredo meu, pedir-te, ao ir, para voltares, uma próxima vez, e se por esses caminhos fores, leva recordação do sim ou não, caso queiras voltar. Ergue-te ao tempo. Arrasta esta luz contigo. Caminho teu, destino meu. Só não esqueças que quando um homem sonha, embora acordado, o mundo corre e avança, por que um dia foi criança e hoje, ainda, vale o sonho.
Solidão, dá a mão ao vento, corre sem destino, vai ao cais de onde não mais posso sair.
Ilusão, já fui dono deste mar, por onde teimas não mais passar.
Montes e vales maiores que a alegria de ver-te. Explorar teu corpo, deixar-me sofrer.
O meu barco, pequenino, é à vela, o qual o vento o desfaz, facilmente.
Não há cordas nem correntes que o prendam ao teu cais. Teu amor é tempestade que o leva e não o traz.
Engano meu, a água do rio virou mar. Mudou-se a estação. Pede-se ao rio para levar o que era amor e virou paixão. Nem mais o fado espanta esta tristeza. Sou nele o refrão de uma alma presa.
Deixo mil tempos, abandono o caminho e entrego a bandeira ao inimigo. Declaro derrota. Triste de quem vencer esta mesma batalha. Não há esquema, tática, nem nada. Um abraço forte, esperança acesa. Minutos cegos, horas recentes, entrego-me ao nada. Sempre que escolho um caminho, por onde vou, não estás. Para que sentir-te, se nem mesmo os anjos te conseguem tocar. Faço papel de bola de cristal, onde alguém te pinta lá nua. Temo a vontade. Temo seu jardim proibido. Nem tudo que eu te dou, tu me dás a mim, mas mostra ter orgulho de ter em outro o espelho dos teus sentimentos. Não vale ser assim um teto, uma árvore, mais vale esconder-me de ti, fascinar o luar, amar o ciúme e retornar ao passado. Não para vivê-lo novamente, mas sim, para esquecer este futuro, que por hoje, passou, virou presente, verdade, disse adeus e deixou saudade.

Ígor Lopes

1 Comments:

At 4:53 PM, Anonymous Anônimo said...

Gostaria de lhe informar que parte
do seu texto Rasgos do tempo, está circulando com autoria de Helô Abreu em vários grupos de poesias do Yahoo.

 

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